Povo brasileiro celebra a canonização de Santa Dulce dos Pobres, o anjo bom do Brasil


Aos 13 anos, Maria Rita de Souza Brito Lopes transformou a casa dos pais, o dentista Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, num lar de acolhida e atendimento a mendigos e doentes

 
Situada à rua da Independência, 61, no bairro Nazaré, de Salvador-BA, a casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam a sua porta. O gesto é o embrião de uma vida virtuosa, desde cedo inclinada à santidade.


Trata-se de um entre tantos fatos na biografia de Irmã Dulce, conhecida como o Anjo Bom da Bahia, que no dia 13 de outubro, às 10h (horário do Vaticano) em celebração presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, será elevada aos altares na condição de Santa Dulce dos Pobres. O anúncio de sua canonização aconteceu dia 1º de julho, quando o Papa presidiu, na Sala Clementina, no Vaticano, o Consistório Ordinário Público para a Canonização da Bem-Aventurada e de outros quatro beatos.


Para o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a canonização da Irmã Dulce é um grande presente para toda a Igreja no Brasil, de modo especial para a Igreja na Bahia, mas também para toda sociedade. Dom Walmor destaca o caráter exemplar de sua biografia. “Ela é exemplar na fé incondicional em Deus e exemplar no desdobramento autêntico de sua fé que se traduz no cuidado com os mais pobres. Por isto é elevada à glória dos altares”, disse.

Segunda filha, ao nascer em 26 de maio de 1914, em Salvador, Irmã Dulce recebeu o nome
Irmã Dulce à direita de seu pai. Fotos: Divulgação Obras Sociais Irmã Dulce

de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. A menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha especial predileção pelo futebol – era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais.

A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Além da inclinação para doar-se ao serviço solidário, na adolescência também manifestou, pela primeira vez, após visitar com uma tia em áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe.

Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.

Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Quando faleceu, em 13 de março de 1992, Irmã Dulce deixou um legado não apenas de fé, mas um conjunto de obras de caridade e socioassistenciais que ergueu graças a seu incansável trabalho de doação aos maios pobres.

No Brasil, por conta da diferença de fuso horário, a celebração de canonização será às 5h da manhã. A celebração será exibida por tvs de inspiração católicas (TV Horizonte, TV Imaculada, Canção Nova, Rede Vida, TV Evangelizar, Rede Século 21 e TV Pai Eterno).

Celebração no Brasil
A primeira missa, em solo brasileiro, em homenagem à Irmã Dulce, pós-canonização, já tem um cenário certo. Será no Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), no dia 20 de outubro, às 16h. Cerca de 500 crianças do Centro Educacional Santo Antônio apresentarão um musical que conta a história dos 60 anos das Obras Sociais da religiosa.


Para arcebispo de Salvador(BA) e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, a canonização da Irmã Dulce dará à dimensão da caridade, um dos quatro pilares das Novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, um grande impulso. “Irmã Dulce tem muito a nos ensinar: mais do que nos deixar uma reflexão sobre a importância do amor aos mais necessitados, nos deixou um exemplo concreto, pois foi ao encontro de quem sofre e os socorreu”, disse.

“É uma emoção muito grande de graças, de bênçãos. Ter uma fundadora como santa é uma graça muito grande, são bênçãos de Deus. Eu não a conheci, mas cheguei na congregação no mesmo mês que ela faleceu. Pelos testemunhos e pela história é como se eu tivesse conhecido Irmã Dulce. Eu bebo dessa fonte a cada dia aqui no hospital, é como se eu estivesse caminhando junto com ela. É um momento muito forte, de graça e de alegria”, afirmou a irmã Josinete Maria Costa, da congregação Filhas de Maria Serva dos Pobres, fundada por Irmã Dulce.

O processo de canonização de Irmã Dulce foi o terceiro mais rápido da Igreja Católica. O primeiro foi o do Papa São João Paulo II, que foi canonizado 9 anos após a sua morte; depois, madre Tereza de Calcutá, que foi canonizada 19 anos após a sua morte; e agora Irmã Dulce dos Pobres, que será canonizada após 27 anos de sua morte. Ela será canonizada no ano em que as Obras Sociais Irmã Dulce comemoram 60 anos. O dia litúrgico da Santa Dulce dos Pobres será celebrado em 13 de agosto.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, chegou a Roma na tarde desta sexta-feira, dia 11 de outubro, para acompanhar a canonização da primeira santa nascida no Brasil, a beata Irmã Dulce. Ele também vai se encontrar com o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, e com o secretário das Relações com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher, para falar sobre o Sínodo para Amazônia, evento que começou esta semana no Vaticano e dura três semanas.

Em conversa como os jornalistas assim que chegou à Cidade Eterna, Mourão afirmou que a canonização da Irmã Dulce é um grande acontecimento, porque a futura santa brasileira é um exemplo de doação da própria vida àqueles que mais precisam. Sobre as obras de caridade deixadas por Irmã Dulce, o vice-presidente disse que o governo federal vai continuar fazendo os aportes que vem sendo feitos e que, na medida do possível, haverá ampliação dos investimentos no futuro.

Mourão também afirmou que marcou uma reunião com representantes do Vaticano para trazer a palavra do governo brasileiro sobre a Amazônia: “Entendemos que o Sínodo trata de questões religiosas, sobre como a Igreja pode chegar ao povo daquela região. Em termos de preservação da floresta, queremos deixar a mensagem de que a Amazônia brasileira é do Brasil. Cabe ao governo preservá-la e protegê-la. Há muitos equívocos na divulgação sobre o desmatamento da floresta. Não queremos ser colocados como vilões, exterminadores de índios ou donos das motosserras. É uma mensagem sucinta e forte”, explicou.

Quando questionado se o governo vê o Papa como inimigo, por fazer um evento que expõe os problemas da Amazônia para o mundo, o vice-presidente foi enfático em dizer que não: “Sabemos que o Sínodo foi organizado há muito tempo. Eu sou filho de uma amazônida, morei cinco anos na região, sei como a Amazônia chama a atenção de todos. O governo em nenhum momento pode olhar a Igreja ou o Papa como inimigos. A Igreja faz parte expressiva da formação da nacionalidade brasileira”.

Sobre a questão das demarcações de terras indígenas, Mourão explicou que 14% do território brasileiro é ocupado por essas terras, para um número de indígenas não tão expressivo. Segundo ele, o governo pretende preservar o que já está demarcado e não criar novos territórios indígenas.

Depois dos compromissos com a Igreja, o vice-presidente da República também vai se encontrar com autoridades políticas italianas e com empresários. Ele volta ao Brasil na terça-feira.

Por intercessão de Irmã Dulce, o maestro José Maurício voltou a enxergar


O maestro José Maurício Bragança Moreira, 50 anos, recebeu em 10 de dezembro de 2014, por intercessão de Irmã Dulce a graça da cura para sua cegueira em decorrência de um glaucoma diagnosticado quando tinha 23 anos, em 1992. O milagre que o fez voltar a enxegar foi o responsável por assegurar o cumprimento da última etapa da canonização da beata baiana. O Papa Francisco promulgou, em 13 de maio de 2019, o decreto que reconheceu o segundo milagre atribuído à intercessão de Irmã Dulce.


Ele conheceu Irmã Dulce quando ainda era menino. Seu pai, gerente de uma casa de materiais de construção, doava material para as obras de Irmã Dulce. A sua mãe também e seu avô ajudava com doação de roupas e armarinhos. “Eu cresci vendo Irmã Dulce naquela luta incansável para construir o hospital e dar continuidade às obras, com muita luta e sacrifício. Nós já a considerávamos santa ainda em vida”.

Ele é músico e maestro, casado e natural de Salvador, na Bahia, mas atualmente mora em Recife-PE. Tem 50 anos, é filho de Ernesto Lula Moreira e Therezinha Bragança Moreira, falecidos, também baianos e amantes da música. Dos pais, além da alegria e da vocação para a música, ele herdou uma pequena imagem de Irmã Dulce que mantém no criado mudo de sua cama.

Após perder a visão total, em 2000, ele dedicou-se a estudar o braile, método de leitura para cegos, e deu continuidade aos estudos de música com ênfase em regência iniciados ainda na juventude. O passo seguinte foi montar o seu primeiro coral de cegos em Salvador no Centro de Apoio Pedagógico na escola onde aprendeu a ler em braile. “Me transformei em maestro de coral. Tive vários corais em Salvador”, conta.

Às vésperas de uma apresentação de seu coral, ele foi acometido por um derrame nos olhos em decorrência de uma conjuntivite viral que o deixou sem dormir por quatro dias seguintes. Na madrugada do dia 10 de dezembro de 2014, já exausto e sem conseguir dormir, por volta das 4h, ele pegou a imagem de Irmã Dulce, a colocou em seus olhos e pediu que Irmã Dulce aliviasse a sua dor. “Com toda a minha fé, fiz a minha prece em silêncio”, disse.

Nesse mesmo momento, recorda-se, quando colocou a imagem de volta, já deu um bocejo e e dormiu. “El me fez dormir e acredito que ela tenha me operado durante o meu sono. Quando eu acordei de manhã, a minha esposa me deu umas compressas de gelo e foi quando eu comecei a enxergar o gelo e a ver a minha mão, e aos poucos a visão foi voltando. O momento que começou o retorno da visão foi pouco tempo depois da oração. É um milagre”, afirmou.

Embora tenha voltado a enxergar, os exames clínicos do miraculado continuam como sendo de um paciente cego. “Eu ouvi de médicos que eu nunca ia voltar a enxergar porque a visão perdida do nervo ótico não se recupera. Eu nunca pedi para voltar a enxergar, pois eu tinha consciência de que era impossível. O que Irmã Dulce me deu foi muito mais do que a cura da conjuntivite ou o alívio da dor. Ela atendeu a minha oração. É uma gratidão infinita, pois eu nunca imaginei que isso ia acontecer em minha vida”, disse o miraculado. O maestro explica o milagre como resultado e conclusão da fé.

Edilayne Martins

"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida." (Bob Marley)

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