Consumidoras de tecnologia, mulheres ainda são minoria no mercado da programação

Mulheres representam uma parcela pequena no mercado e são minoria nos cursos universitários relacionados à computação; iniciativas buscam mudar essa realidade




Apesar de 58% das mulheres brasileiras utilizarem a internet, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2015 do IBGE, elas ainda têm uma participação tímida no mercado de desenvolvimento de tecnologias. Dos 4,3 mil associados na Sociedade Brasileira de Computação, em 2016, apenas 19,5% são mulheres. Estatística que se repete nas salas de aula. Dos 1.683 engenheiros da computação formados em 2010, apenas 161 eram mulheres, segundo o Inep.

Essa desigualdade não é fruto da falta de aptidão feminina para a tecnologia. Pelo contrário. Segundo Patrícia Moscariello Rodrigues, coordenadora do curso de Ciências da Computação do Centro Universitário IESB, além de mais detalhistas, as mulheres que ingressam no curso são mais persistentes. “A taxa de abandono é muito maior entre os homens. Se quatro iniciam o curso, podemos esperar que as quatro estarão no próximo semestre e grande parte delas concluirá o curso”, afirma.

Dos doze professores de Ciências da Computação do IESB apenas duas são mulheres. Flávia Lopes é uma delas. Quando criança se encantou pelo computador do irmão e quando o pai o matriculou em um curso de programação, ela quis também. Ele decidiu se dedicar ao sacerdócio e ela à computação.

Flávia é concursada e conta que no serviço público o mercado da computação é majoritariamente masculino. “Houve uma época que fui gerente e haviam apenas duas mulheres: a secretária e eu”. Entretanto, relembra que o primeiro algoritmo foi criado por uma mulher – Ada Lovelace em 1843 – e que outras mulheres tiveram papel fundamental no desenvolvimento de tecnologias.

Uma delas foi Grace Hooper, analista de sistemas da Marinha dos Estados Unidos nas décadas de 1940 e 1950, que desenvolveu a linguagem Flow-Matic, base para a criação do COBOL (Common Bussiness Oriented Language), linguagem utilizada até hoje em processamento de dados comerciais. Também é criadora do termo “bug”.

Desigualdade
Luana Carneiro venceu os desafios da profissão e hoje é especialista de novas tecnologias da Caixa Econômica Federal

A sobrecarga da jornada tripla – profissional, pessoal e familiar – sobre as mulheres pode ser um dos motivos da falta delas no mercado da tecnologia. “Essa é uma profissão que exige estudos constantes, atualização frequente e talvez seja mais difícil para a mulher que tem que se dedicar aos filhos e à família”, afirma Flávia.

O machismo durante a infância também tem peso na hora de escolher a profissão, acredita Ronaiza Cardoso, analista de sistemas. “As meninas ganham bonecas, kit de cozinha e os meninos ganham lego, videogames. É um problema estrutural. Precisamos abrir os olhos das meninas para que vejam que elas podem fazer algo diferente de enfermagem ou pedagogia”.

Luana Carneiro é formada em Tecnologia de Redes de Computadores e enfrentou dificuldades para entrar no mercado por causa do gênero. “Me formei, sempre quis trabalhar na área, mas eu era simplesmente rejeitada por não ter perfil. Não adiantava provar que eu sabia fazer”, conta. Acabou se tornando programadora de banco de dados e, após trabalhar para o Banco do Brasil e para o Banco Central, hoje é especialista de novas tecnologias da Caixa Econômica Federal.

Mulheres programadoras

Diversas iniciativas têm buscado reverter esse quadro de desigualdade. As ONGs PrograMaria, Minas Programam, Code for Girl, Meninas Digitais são algumas organizações que tem como objetivo estimular a maior participação de garotas na tecnologia, através de cursos de programação.
Ronaiza Cardoso é uma das organizadoras do JS4Girls – Java Script for Girls – que oferece cursos da linguagem para garotas

No Distrito Federal, o JS4Girls – Java Script for Girls – reúne interessadas nas redes sociais e promove workshops para ensinar mulheres a programar. “Algumas garotas evitam participar de grupos de debate ou de eventos do ramo com medo de serem menosprezadas ou assediadas”, conta Ronaiza, uma das organizadoras.

Ronaiza acredita que esta é uma realidade que está mudando, com os homens combatendo atitudes machistas e apoiando as iniciativas para inclusão feminina. “Se eu questiono em algum fórum e alguém me responde chamando de ‘linda’, logo os outros rapazes o repreendem”.

Percepção reiterada por Luana. “A desigualdade está diminuindo muito. Eu acredito que ainda exista, mas no meio que eu trabalho não existe ‘isso é coisa de mulher’. A conversa é de igual pra igual”.

Por: Ohanna Patiele.

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