O ramo da Odontologia visa orientar gestantes sobre saúde bucal e prevenir danos à saúde do binômio mãe-bebê
As grávidas podem ir ao dentista? Na verdade, é justamente por se encontrarem nessa condição que se faz necessária a avaliação profissional. É o que diz a odontologia intrauterina, ou pré-natal odontológico. O ramo da Odontologia visa cuidar da saúde bucal da paciente gestante ao oferecer tratamentos preventivos e de combate às doenças bucais comuns na gravidez, como cárie e problemas na gengiva.
Giulia Isabelly teve cárie com um ano e seis meses
A professora de Educação Física Gizane Dias, 24, só procurou o dentista durante a gravidez para tirar dúvidas sobre um ciso que a incomodava. Ela não teve orientações odontológicas durante o período e precisou se adaptar. “Minha filha teve cárie aos quase um ano e sete meses, foi quando ela começou a se tratar com o dentista que cuidou de mim desde a infância”, conta. Ela relata que o tratamento odontológico de Giulia Isabelly teve início no posto de saúde pública, onde recebeu orientações, em palestra, sobre a retirada da amamentação noturna. “Eu a desmamei, mas lá não foi possível tratar a cárie, porque no posto não tinha equipamento suficiente para atendê-la, foi o que disse a dentista que a atendeu”, diz. A pequena Giulia, 2, hoje pratica a escovação e está livre de cárie.
Odontopediatra Enerson Finholdt: “Bons hábitos da mãe transferem-se ao bebê e ajudam a evitar cáries”
“Quando a Gizane me procurou, a Giulia tinha múltiplas lesões cariosas, que foram tratadas com restaurações em resina composta e sessões de fluorteriapia prévia para remineralização do esmalte dental”, conta o odontopediatra Emerson Finholdt. Ele salienta que o fato de Giulia gostar muito de doces está relacionado aos hábitos alimentares da mãe durante a gravidez e que a falta de orientação no período gestacional é um importante fator nas causas da infecção oral da criança. “A cárie é causada por uma bactéria e é transmitida por contato, como o beijo na boca da criança ou o simples ato de soprar o leite ou provar a sopa do bebê”, explica.
Emerson Finholdt recomenda que a mulher procure o dentista logo que descobre a gravidez para submeter-se a sessões preventivas e orientações: “Neste período ela muda seus hábitos e transfere-os ao bebê que, por sua vez, adota-os para toda a vida, minimizando assim os riscos de cáries”. Ele salienta ainda que a gestante “pode submeter-se a intervenções odontológicas, realizadas com mais segurança para a mãe e o bebê, no segundo trimestre da gestação”.
É o caso da coordenadora de informática Ana Paula Bayardino, 46, mãe da Rafaela, 18, que foi orientada pelo odontopediatra desde o primeiro mês de gravidez. Ana atribui à prevenção o mérito da ausência de cáries da filha. “Desde o início da minha gravidez diminuí a ingestão de doces e a Rafa nunca sentiu falta do açúcar, pois minimizamos o uso desde a primeira infância”, conta.
A Odontopediatra do Hospital Regional de Taguatinga Andréia Aquino relata que há na literatura uma correlação do aumento de nascimentos de bebês prematuros e/ou de baixo peso com a doença periodontal. Por isso, segundo ela, a grávida, tendo ou não queixa odontológica, deve buscar a orientação do dentista: “Para que ela tenha a sua cavidade bucal avaliada, com a intenção de se reduzir focos de infecção em todo o periodonto (tecido que envolve os dentes) e, consequentemente, evitar a possível transmissão [de bactérias] via placentária, causando o nascimento de bebês prematuros e de baixo peso”.
Pediatra Wilson Marra salienta a importância do acompanhamento médico e odontológico da gestante
Já o médico pediatra Wison Marra vê a odontologia intrauterina como algo “ainda muito imaturo no Brasil”. Para ele, um pré-natal bem orientado visa todo um contexto que leva em conta a saúde do binômio mãe e filho. Marra salienta ser importante despertar no obstetra o senso da prevenção relacionado à saúde bucal do feto e que o relacionamento pre-natal entre especialistas e gestante dá segurança à futura mamãe e à família. “O ser criança é produto de um bom acompanhamento obstétrico, neonatal, lactente, escolar e adolescente. Cada etapa tem suas peculiaridades e necessidades, que devem ser acompanhadas por profissionais especializados em prover o necessário para o desempenho da criança”, afirma.
Atendimento pelo SUS
Questionada sobre a existência de um programa específico para pré-natal odontológico na rede pública, a Secretaria de Saúde, por meio da assessoria de comunicação, diz que os servidores da atenção básica são orientados a priorizar o atendimento emergencial das gestantes. Segundo o órgão, o acompanhamento pré-natal delas é realizado no centro de saúde mais próximo de casa. Já o atendimento odontológico ocorre em caso de necessidade e de acordo com a demanda da Odontologia que, em alguns locais, trabalha em parceria com a Rede Cegonha – um programa de atendimento à gestante do Ministério da Saúde. A Secretaria não informou o número de atendimentos a gestantes visto que, segundo o órgão, o programa de coleta de dados trabalha somente com tipos de procedimentos e não com indivíduos.
Por Lidiane Makena.