Rollemberg contrata e Fundação Cacique Cobra Coral traz chuvas para o DF

Médiuns da entidade já fizeram convênios com SP e RJ, em tempos de crise hídrica; atuação é gratuita e informal, diz Rollemberg

Sem soluções de curto prazo para a crise hídrica, o governo do Distrito Federal recorreu à espiritualidade para reforçar as chuvas e encher os reservatórios. No início de março, a Fundação Cacique Cobra Coral, entidade esotérica que teria o poder de controlar o clima, montou um "quartel-general" em Luziânia, no Entorno, para adiar a chegada da estiagem ao Planalto Central.

Chuva na w3 sul neste sábado (20/05).

A parceria foi sugerida pelo governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), mas o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), resistia. O acordo, sem ônus para o governo do Distrito Federal, será publicado nos próximos dias no Diário Oficial. 


Em seu facebook no dia (31/03), o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg diz que, "como católico", tem "rezado muito para que chova bastante no DF". As atividades da Fundação Cacique Cobra Coral estão relacionadas a contatos com o plano astral e com o espírito do cacique que nomeia a entidade – e que já passou pela terra como Abraham Lincoln e Galileu Galilei, segundo o grupo.

De acordo com Osmar Santos, a operação de Brasília foi similar à que foi empregada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em 2015, para conter a crise hídrica que secou os reservatórios daquela região.

Chuva na Lago Norte neste sábado (20/05).

O Instituto Nacional de Meteorologia registrou 33,8 mm entre 9h do dia 17 e 9h do dia 18 de maio, mas praticamente toda a chuva caiu em 3 horas, no começo da noite do dia 17 de maio. Foi a maior chuva em 24 horas em maio em 23 anos, desde 1994.

Chuva na w3 sul neste sábado (20/05).

O céu de Brasília se encheu de nuvens carregadas e escuras no início daquela noite indicando o que poderia vir em breve, depois de uma tarde com calor de 29°C. Na região do aeroporto internacional de Brasília, a chuva forte veio com rajadas de vento de 64 km/h e se prolongou até o começo da madrugada desta quinta-feira, 19h. 

Mas por que esta chuva de Brasília merece destaque? Porque caiu em pleno mês de maio, quando normalmente chove muito pouco. A média de chuva para maio é de aproximadamente 40 mm. Assim, em poucas horas da tarde de 17 de maio de 2017 caiu quase toda a chuva normal para um mês de maio. Foi a maior chuva em 24 horas em maio em 23 anos, desde 1994. Entre 20 e 21 de maio de 1994 choveu 52,6 mm, pelo que conta no banco de dados do Instituto Nacional de Meteorologia.

Temporais como os dos dias 17, 18 e 20 de maio são raros em Brasília em um mês como o de maio. Seria normal se tivesse caído em qualquer dia entre os meses de setembro a abril. Além do Distrito Federal, fortes pancadas de chuva foram observadas desde o início da semana em vários locais de Goiás. Também na tarde de 17 de maio, o Instituto Nacional de Meteorologia registrou 45,4 mm em Luziânia em apenas 1 hora, mais do que a média de chuva normal para maio, que é de aproximadamente 35 mm.

Chuva na Lago Norte neste sábado (20/05).

Em fevereiro, o prefeito João Doria também tinha fechado uma parceria com a fundação. "Quem nos indicou para o governo de Brasília foi o governador [do Rio], Luiz Fernando Pezão, que tocava essa operação por lá", diz Santos.

"Começamos há uns 50 dias. A intervenção, consiste em prolongar esse período chuvoso por mais uns dias, para tornar o outono e o inverno mais úmidos. Também queremos antecipar o período chuvoso já para setembro."

Em anos "normais", a temporada de chuvas no DF começa em meados de outubro, e se estende até o mês de março. Se o clamor ao cacique for atendido, as nuvens devem continuar sobre a capital federal por, pelo menos, mais quarenta dias.

"É um processo gradual, porque você não pode mexer com a natureza de qualquer jeito, causando efeito colateral. Mas vão ser as águas de maio, e não de março, que vão fechar o verão."

No site da Fundação Cacique Cobra Coral, consta que o espírito que dá nome à entidade "já teria sido Galileu Galilei e Abraham Lincoln". De acordo com o texto, a missão da fundação é "minimizar catástrofes que podem ocorrer em razão dos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza".

Além do socorro às crises hídricas, a fundação já foi acionada pelos governos estaduais, pela União e até por outros países para garantir o céu limpo em grandes eventos, como o: Rock in Rio, festas de réveillon e Olimpíadas, por exemplo.

No site oficial da Fundação Cacique Cobra Coral, constam extratos de convênios firmados com as cidades de São Paulo e Rio, e com os estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo a entidade, o contrato a ser oficializado com o DF foi feito "nos mesmos moldes".

O porta-voz da fundação afirma que a base de operações foi montada em Luziânia, a 60 km do centro de Brasília, por uma questão de logística. Sem dinheiro público, as viagens dos líderes espirituais entre SP, GO, RJ e DF são custeadas por dez empresas privadas desses estados, segundo ele.

"Nós vamos pegar três estações. Chegamos no fim do verão, então devemos pegar o outono, o inverno, até o próximo verão. A fundação funciona como um airbag climático, ou seja, não evita os acidentes. É uma contenção de danos", diz Santos.

No mês de março, a médium Adelaide Scritori esteve pessoalmente em Luziânia. Filha do fundador Ângelo Scritori, que dizia manter contato direto com o espírito de Padre Cícero –, é ela quem incorpora o Cacique Cobra Coral e faz os pedidos ao plano astral.

A "lição de casa" cobrada pelo espírito, de acordo com Santos, inclui a conclusão das obras de captação de água na Usina Hidrelétrica de Corumbá IV (entre o DF e Goiás) e no Lago Paranoá. O primeiro projeto foi retomado depois de suspeita de irregularidades por parte do governo de Goiás, e o segundo recebeu aporte recente de R$ 55 milhões da União e a obra já iniciou.

Ao contrário do que afirma o governo, a Fundação Cacique Cobra Coral diz que um contrato será fechado, e terá de ser publicado em Diário Oficial. O acordo não prevê repasse de dinheiro público, as atividades são custeadas por empresários e mantenedores, afirma a entidade.

Os próximos dias poderão dar um pouco mais de chuva para a região do Distrito Federal e Entorno. Até a próxima terça-feira, 23 de maio, o ar continua mais úmido do que o normal para esta época e há previsão de mais pancadas de chuva. A chuva não será generalizada e bem prolongada, mas pode cair forte em algumas horas nestes próximos dias.

A chuva de maio pode até reverter a grave crise hídrica pela qual passa a região de Brasília, uma vez que o mês deve terminar com um volume de chuva bem acima da média dos últimos 23 anos.

Fotos: Paulo Melo e Eugênio Piedade.

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