Artigo: Vinte e cinco anos depois

José Roberto Arruda


Em 21 de abril de 1994, o metrô de Brasília foi inaugurado e fez a primeira viagem, da estação da 114 Sul até a Praça do Relógio, de Taguatinga. Agora, 25 anos depois, é hora de registrar um pouco da sua história



A ideia do metrô nasceu em 1984, quando o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) contratou o Instituto Mauá de Tecnologia para fazer o primeiro estudo de transporte de massa do DF. Depois, a empresa de consultoria Figueiredo Ferraz deu prosseguimento às pesquisas de origem e destino, de demandas futuras, de eixos de crescimento das cidades, de corredores de transportes e de tecnologias possíveis de serem usadas aqui.


Na Companhia Energética de Brasília (CEB), montamos pequena equipe de engenheiros que estudava as formas de alimentação elétrica de um possível transporte sobre trilhos. Em 1986, na Secretaria de Serviços Públicos do governo José Aparecido, demos sequência aos estudos, definindo traçado e anteprojeto.


Nessa época, éramos muito criticados. Dizia-se que Brasília não tinha engarrafamento de trânsito e nunca teria demanda para um investimento em transporte sobre trilhos. Nós argumentávamos que o metrô deveria ser construído não em função da demanda existente, mas da futura, para organizar e estruturar o crescimento da cidade. Com a primeira eleição de Roriz, em 1990, recebemos o desafio de viabilizar a obra. Corremos o mundo atrás de tecnologia e financiamento, fomos a Canadá, França, Alemanha, Espanha e Japão, mas aqui éramos vistos com ceticismo e ironias. Montamos uma equipe de engenheiros experientes e colocamos mãos à obra.

Com o projeto básico pronto e aprovado na área de meio ambiente e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fomos vencendo os obstáculos. Por exigência de Lucio Costa, na sua última viagem a Brasília, que hoje se mostrou acertada, o metrô saiu da W3 e passou para o Eixinho e teria que ser subterrâneo. Tivemos que tirar mais de mil árvores, que foram transplantadas para o viveiro da Novacap e mais tarde trazidas de novo para o Eixinho, quando o túnel ficou pronto. Enfim, projeto pronto e aprovado, feita a concorrência pública e obtido o necessário financiamento do BNDES, por uma decisão do presidente Fernando Collor, em 5 de janeiro de 1992 a obra foi iniciada.

Na primeira fase, foram dois anos e quatro meses de obras num ritmo alucinante, de 24 horas por dia, sem parar nos fins de semana e feriados, que lembrava a construção de Brasília nos anos 1950. Milhares de homens e máquinas perfuravam túneis, construíam estações e trincheiras, redes de energia e sistemas de controle, viadutos e pontes, enquanto os vagões eram fabricados em São Paulo e a parte elétrica, no Paraná.

Aproveitando a desapropriação das 134 chácaras que existiam onde o metrô passaria, entre o Guará e Taguatinga, iniciamos o projeto de uma nova cidade, que hoje é Águas Claras. Projetada pelos arquitetos Paulo Zimbres e Luiz Antonio Reis em tempo recorde e aprovada a criação da cidade, começamos a abrir as ruas, a fazer a infraestrutura e a vender as projeções pela Terracap para pagar a contrapartida do financiamento do metrô. Os desafios só eram menores que as críticas, vindas de todos os lados.

O governador Roriz, cujo saldo positivo da sua contribuição a Brasília fica ainda mais evidente com o passar dos anos, exigiu que houvesse um ramal para Samambaia, pois antes só era previsto Taguatinga e Ceilândia. Trabalhávamos, com entusiasmo, dia e noite, para cumprir os prazos e vencer os muitos obstáculos. Enfim, em 21 de abril de 1994, o metrô fez a primeira viagem.

Anos mais tarde, em 2007, já como governador, tivemos a possibilidade de concluir o trecho de Taguatinga a Ceilândia, de comprar mais 48 novos carros do metrô, construir oito novas estações e, com isso, elevar a demanda, que até ali era de apenas 50 mil passageiros/dia para os 160 mil atuais. Aqui, devo registrar minha gratidão ao então presidente Lula, que atendeu nosso pedido e viabilizou os recursos federais necessários.

Diferentemente das outras grandes cidades brasileiras, que só construíram seus sistemas metroviários depois do adensamento urbano, em Brasília construímos o metrô antes, a um custo muito menor, com menos desapropriações e com muito mais facilidade construtiva. Basta imaginar Brasília hoje sem metrô para se ter ideia do acerto da obra e do momento em que foi construída.

Deixo aqui minhas homenagens a todos os que ajudaram nessa obra em todas as suas fases e que, por falta de espaço e não de gratidão, não foram lembrados nominalmente. E fica minha esperança de que possam ser feitas as extensões do metrô em Samambaia, Ceilândia, Asa Norte, Recanto, Riacho Fundo II, Gama, Santa Maria e o VLT da W3 como deixamos planejado. De tudo que pude contribuir na vida, em mais de 40 anos de engenharia e de vida pública, certamente a obra do metrô é a que me traz mais orgulho e saudade.

*José Roberto Arruda é Engenheiro e Ex-governador do Distrito Federal.

Edilayne Martins

"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida." (Bob Marley)

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