Dependência tecnológica já é preocupação para psicólogos

Uso exagerado da internet e smartphones pode causar transtorno do pânico e ansiedade

Segundo relatório divulgado em 2017 pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, em inglês), o Brasil está em quarto lugar no ranking mundial de usuários da internet. O Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) revelou, em 2016, que 116 milhões de brasileiros estavam conectados a essa rede, equivalente a 64,7% da população com idade acima de 10 anos. A facilidade de acesso à tecnologia encontrada atualmente tornou comum o que é chamado de “dependência tecnológica”, quando o indivíduo utiliza exageradamente esse tipo de recurso que pode trazer prejuízos a sua saúde.

A psicóloga Áurea Gabriel afirma que essa dependência não é reconhecida pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais. O reconhecimento desse problema é realizado, portanto, a partir das reclamações dos pacientes, que muitas vezes dão sinais como “deixar de estabelecer vínculos ao vivo com outras pessoas ou falta de empatia, o que pode desencadear um transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobia social, transtorno do pânico e etc”, afirma. Áurea ainda conta que o uso exacerbado da tecnologia pode ter origem em um quadro de ansiedade, no qual a pessoa utiliza o celular ou outros aparelhos como fuga.

De acordo com estudo da faculdade de Medicina de Harvard, a luz azul emitida por esses equipamentos ativa os neurônios e traz a sensação de estar sempre ativo, refletindo, assim, na qualidade do sono e levando a doenças como as citadas anteriormente.


Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de usuários da internet, segundo relatório divulgado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

Nomofobia

Apesar da dependência tecnológica não ser considerada um distúrbio psicológico, o desconforto ou angústia devido à falta de comunicação através de aparelhos tecnológicos já possui um nome: nomofobia. O termo tem origem na pesquisa realizada pelo Instituto YouGov para o Departamento de Telefonia dos Correios britânicos, e é uma abreviação do inglês no-mobile-phone phobia.

Antes procurado apenas para receber ligações ou mensagens de texto, hoje os aparelhos celulares carregam toda uma vida em um dispositivo que cabe no bolso. Com o surgimento dos smartphones, é possível navegar em redes sociais, acessar a conta bancária, se conectar com as revistas e jornais que mais gosta, solicitar transportes, comidas e escrever documentos com poucos cliques. São por eles que os brasileiros mais acessam a internet, de acordo com o estudo do IBGE de 2016. Com tantas possibilidades na palma da mão, é ainda mais difícil abandonar a tecnologia.

No caso da social media Halline Medeiros, abrir mão do celular é uma tarefa árdua, pois ele também é sua ferramenta de trabalho. “Não fico longe do celular um minuto, só desconecto na hora de dormir e adquiri o hábito de checar mensagens e atualizações o tempo todo”, admite. Halline conta ainda que já foi chamada atenção por outras pessoas, mas acredita que o uso excessivo do celular não interferiu nas suas relações pessoais. “Quando em grupo, priorizo o contato pessoal, mas quando estou sozinha é inevitável acessar as redes e usar a tecnologia”, finaliza.

A estudante Kananda Maria vê os reflexos do uso do celular em seu corpo. “Eu sinto dores de cabeça e, quando tenho isso, começo a ter mais controle sobre mim mesma, até porque tudo em excesso faz mal”, relata. Ela admite que já deixou de realizar atividades acadêmicas devido ao uso da internet, apesar de ter ocorrido poucas vezes.

Dentro das escolas

Algumas instituições aderiram aos aparelhos tecnológicos como material escolar. Porém, no colégio Olimpo, que possui unidades em Águas Claras e Asa Sul, isso não é uma realidade. Com alunos de ensino fundamental e médio, estabelecer esse momento offline durante as aulas é uma tarefa difícil. “O maior desafio é o uso desses equipamentos em acordo com os estudos. O trabalho feito vai no sentido de que o aluno perceba a necessidade de equilíbrio e ponderação entre o uso de celulares e de momentos offline para estudar os conteúdos trabalhados em sala. Uma forma de tentar esse caminho é no estabelecimento de acordos, algo próximo a uma gameficação das responsabilidades”, afirma o professor do colégio, Raul Cardoso.

Raul ainda conta que a sua relação com a tecnologia é boa, porém, nem sempre a mais saudável visto que a utiliza tanto para o trabalho como para o lazer. “Um celular é uma ferramenta de grande potencialidade. Aprender a usufruir de todas as dimensões é algo exigente e que demanda do professor muita atenção. Por isso, caso um professor use um celular em sala, é importante ter um bom planejamento com uma intencionalidade muito clara”, termina.

Tratamento

Diferente dos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, Brasília ainda possui poucas opções de tratamentos especializados para a dependência tecnológica. O Adolescentro, Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família realiza esse serviço para jovens de 10 a 18 anos, que podem procurar o atendimento ou ser encaminhados pelas unidades de saúde. Além disso, o Instituto Brasiliense de Psiquiatria (IBP) e as clínicas Viva e Recanto também oferecem o tratamento para esses vícios digitais.

Adolescentro

Endereço: SGAS 605, lotes 32/33 – Asa Sul

Contato: (61) 3242-1446/3242-1447/3445-7573/3445-7581

Instituto Brasiliense de Psiquiatria (IBP)

Endereço: SCN Quadra 02 Bloco D Entrada B Salas 807 e 809 – Shopping Liberty Mall

Contato: (61) 3024-9058

Clínica Recanto

Endereço: QNA 10 – Taguatinga Norte

Contato: (61) 3351-1261

Clínica terapêutica Viva

Endereço: SGAS 910, conjunto B, Edifício Mix Park, Bloco E Sala 19 e 21 – Asa Sul

Contato: (61) 3244-1810

Por Ketlyn Victoria

Edilayne Martins

"Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida." (Bob Marley)

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