Atleta brasileiro conquista duas medalhas nos jogos mundiais para transplantados na Austrália

 Professor de educação física superou limites após passar por transplante renal e representa o Brasil levantando bandeira pela doação de órgãos


Ramon Lima foi protagonista de dois bronzes nas provas de corrida de 1.500 metros e 800 metros
Créditos: Arquivo pessoal

Vinte e cinco medalhas foram trazidas para o Brasil por atletas transplantados e doadores de órgãos que participaram do World Transplant Games 2023, na Austrália. Entre eles está o transplantado renal Ramon Lima, que foi protagonista de dois bronzes nas provas de corrida de 1.500 metros e 800 metros. "Voltamos para casa com o sentimento de missão cumprida. Representar o país num evento internacional como esse é um grande privilégio e, no final, o maior prêmio é contribuir pela divulgação da doação de órgãos", declara Ramon.

Hoje, aos 41 anos, quem vê Ramon praticando corridas de rua não imagina o que ele já passou até levar uma vida normal de novo. "Precisei superar limites e medos. Só depois de conhecer atletas transplantados é que percebi a minha capacidade para percorrer o caminho do esporte, que já fazia parte de mim", revela. Junto de atletas da 1.ª Liga Nacional de Transplantados, o professor de educação física representou o país nos jogos mundiais disputados entre os dias 15 e 21 de abril, na cidade de Perth, na Austrália. "A natação e o atletismo já são o carro chefe do Brasil, mas agora estamos abrindo portas para outros esportes como triathlon e ciclismo", conta o atleta.

Corrida por uma causa

"Vi no esporte uma maneira de mostrar a importância da doação de órgãos e desmistificar a ideia de que transplantado é alguém com muitas restrições e que não pode se exercitar." Essa frase se tornou um mantra para Ramon Lima. Depois de ser diagnosticado com insuficiência renal crônica há 11 anos, ele passou pela diálise peritoneal, ficou cerca de um ano na fila por um transplante e, em janeiro de 2020, recebeu a ligação de que um rim compatível o esperava. Mas foi após conhecer eventos esportivos para transplantados que ele começou a correr pela realização de um sonho: ampliar a divulgação da doação de órgãos.

A prática de exercícios fez o atleta redescobrir sua paixão pelo esporte e despertar para o desejo de colecionar ainda mais medalhas. Um mito que o atleta busca quebrar com a participação em jogos é sobre as restrições esportivas para transplantados. "Sempre pratiquei esportes. Mas, a partir da descoberta dos jogos voltados ao público que recebeu um órgão, senti ainda mais vontade de competir e mostrar que os transplantados têm condições físicas de disputar eventos esportivos. Hoje, não vejo meu dia a dia sem atividade física, e sem pensar em como melhorar a divulgação da doação de órgãos", acrescenta Ramon.

Esporte melhora saúde de transplantados

"Os transplantados que se exercitam ficam internados menos tempo, podendo voltar mais rápido ao trabalho e à vida social, o que reflete em mais qualidade de vida", conta Alexandre Tortoza Bignelli, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru, 100% SUS, em Curitiba (PR). O médico, que acompanha o caso de Ramon desde o início, explica que as atividades físicas podem funcionar como um remédio. Para um estudo da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, cientistas coletaram dados sobre a saúde e a frequência de práticas aeróbicas de 4,5 mil pacientes com perda das funções dos rins. Ao cruzar as informações, notaram que a prática de exercícios fez diminuir em 17% o risco de evolução para fases mais graves da doença. 

Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar. Hoje, estima-se que 13 milhões convivam com a doença e mais de 140 mil façam diálise no país. As estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta têm algum comprometimento renal. "O grande desafio da doença renal é que, em sua fase inicial, ela é assintomática. Para reverter esses desfechos, a saída é trabalhar pela conscientização sobre os fatores de risco que levam ao colapso dos rins, caso de diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo", encerra o nefrologista.


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