Com aprovação de apenas 18,2% para a sua gestão, é melhor Zé abandonar toda esperança
O único fator objetivo em uma campanha eleitoral são as pesquisas. Somente elas são capazes de dar alguma racionalidade ao processo eleitoral, orientando as estratégias, sugerindo rumos e em alguns permitindo antecipar o desfecho (o que parece estar acontecendo agora em Goiás). Fora as pesquisas, o que existe é achismo, palpitaria ou, no máximo, intuição. Candidato que ouve as pesquisas e as interpreta com correção, ajuntando a essa análise um pouco de conhecimento histórico e avaliação sociológica, pode até perder a eleição, mas conscientemente, lutando até o fim.
As pesquisas, ao contrário do que diz o governador Zé Eliton no seu inglório esforço para justificar o seu mau desempenho, são todas iguais. Claro, as que têm credibilidade. Zé, pressionado pelos veículos de comunicação a comentar os seus pífios índices, gosta de dizer que cada instituto tem a sua metodologia e que por isso os números são conflitantes, exemplo dele próprio, que teria as famosas “pesquisas internas” apontando para uma melhor posição sua no ranking eleitoral, ao contrário dos levantamentos publicados pelos institutos credenciados.
Isso não é verdade, Zé. A metodologia é uma só – a estratificação com base nas informações estatísticas sobre o eleitorado – e os resultados, observada a margem de erro e o nível de confiança, são sempre os mesmos. Quando as apurações de um instituto se alinham com a média de outros, é porque está fazendo um bom trabalho, seguindo a metodologia com rigor e extraindo o espelho real das intenções de voto que estão no seio da sociedade. Quando não, é porque entraram em cenas variáveis, digamos assim, inconfessáveis.
METODOLOGIA DO ZÉ
Nesta temporada eleitoral, dos 10 institutos que estão atuando em Goiás, apenas dois têm divergido da média dos demais. Coincidentemente, com dados a favor de Zé Eliton, em um dos casos o dobro do que ele obtém na média do Serpes, Grupom, Fortiori, Diagnóstico, Ibope e outros de inquestionável lisura. Como todo mundo sabe que candidato governista é o que tem mais recursos para gastar, em qualquer eleição, é óbvio que os institutos divergentes estão trabalhando para a campanha de quem está no poder e, esses sim, utilizando alguma “metodologia” específica, tal como a define o candidato do PSDB, talvez por aprendizado próprio. A metodologia do Zé.
O que o infelicitado candidato tucano, do alto da sua pouca experiência política e eleitoral, não sabe é que candidato que recorre a esse expediente apenas revela o seu desespero com a iminência da derrota, na ânsia de tentar levar com as suas próprias “pesquisas internas” algum ânimo para sua militância. É o mesmo que passar recibo de incompetência e incapacidade como general de um exército desorientado pela expectativa do fracasso na batalha que se avizinha. É um vexame. O papel de motivador das tropas cabe a quem tem a vocação do verdadeiro líder e o domínio da palavra. O que Zé não é e não tem.
Outro dia apareceu uma dessas pesquisas, certamente usando a metodologia do Zé, apontando-o como um dos maiores fenômenos eleitorais de todos os tempos em Goiás, já com 25% e até mais um pouco das intenções, quase encostando em Ronaldo Caiado. Nas redes sociais, áulicos palacianos comemoraram os números, confirmando que parte substancial da base governista vive hoje em um mundo de fantasia – e talvez seja por isso mesmo, em sintonia perfeita com uma boa dose de arrogância, que o candidato oficial não consegue decolar, seguindo humilhado em empate técnico com o modesto e intrépido Daniel Vilela. O jovem e valoroso Daniel que não desgruda dos ombros do Zé e compartilha com ele os mesmos índices, às vezes sem necessidade de recorrer a qualquer margem de erro.
Caro leitor: as pesquisas que alinham os seus índices umas com as outras dentro da margem de erro são as únicas em que se deve acreditar. Todas as outras estão a serviço de candidatos que marcham na rabeira e não sabem o que transmitir às suas desnorteadas e fiéis plateias. Daniel tem o mérito de não recorrer a esse expediente escuso. Candidatos que apelam a estratagemas para espalhar ilusões e enganar principalmente seus seguidores mais próximos não merecem vencer a eleição e devem castigados com a derrota sem honra.
E, também por isso, o Zé não vai ganhar. A última pesquisa Serpes revelou que somente 18,2% dos goianos aprovam o atual governo (soma de 2,2% de ótimo e 16% de bom). Já 66,7% consideram a gestão como regular (37%), ruim (13,6%) e péssima (16,1%). O que torna a situação ainda mais desastrosa o representante da base governista é que esses índices vêm evoluindo negativamente desde que ele assumiu, há cinco meses. O volume de indecisos diminuiu para a metade, aumentando a adesão à avaliação de que o governo não vai bem. Zé apostou todas as fichas no seu sucesso como governador-tampão e… não conseguiu convencer os goianos de que é preparado, tem experiência e sabe administrar. Não convenceu como governador. Sua gestão é um fiasco. Não presta nem como continuidade de Marconi.
Agora, a questão que se coloca é simples: como é que um governador tão mal avaliado pode pedir à população mais quatro anos para continuar com uma administração com um índice de aprovação baixíssimo e de reprovação altíssimo? Quando vai às urnas, o eleitor vota no nome que traz para a ele a esperança de eficiência e competência quanto ao futuro do seu Estado. Um governo que 66,7% dos goianos consideram como regular, ruim e péssimo não atende a esse anseio, está apto a reivindicar da sociedade mais quatro anos? Responda você, leitor. E nas urnas, de preferência.
O PESO DA REJEIÇÃO
Depois de oito veiculações sem que fosse feita qualquer referência ao seu nome, o ex-governador e candidato ao Senado Marconi Perillo finalmente apareceu no programa de rádio e televisão de Zé Eliton. Marconi elogiou o Zé, pediu voto para ele e fez um comunicado aparentemente estranho: disse que não é mais o governador de Goiás e que esse posto é ocupado pelo Zé.
Há uma pretensão clara dos marqueteiros tucanos com a utilização da imagem de Marconi: tentar transferir as poucas intenções de votos, cerca de 5%, que o ex-governador tem a mais que os índices de Zé Eliton. Além, disso, o tucano-mor deixou o governo com uma aprovação de 33,2%, enquanto o atual tem 18,2%, conforme apontou o Serpes em O Popular na época da renúncia de Marconi e nesta terça. Essa é uma diferença que tem que ser buscada. Outra linha de ação é diminuir o nível de desconhecimento do candidato da base governista, que parte do eleitorado ainda hoje não saberia quem é e muito menos que já governa o Estado. Talvez, se identificado como governador possa absorver algum crédito pelas realizações passadas das administrações do Tempo Novo. É isso que pensam os gênios do marketing e da comunicação da campanha do PSDB.
Isso não vai resolver. O marketing do Zé já mudou de rumo várias vezes, sem conseguir proveito nenhum até agora. Essa é mais uma guinada. Mas o que ameaça a nova estratégia é que Marconi tem a rejeição mais alta dentre todos os candidatos majoritários. Na pesquisa também desta terça-feira do Diagnóstico, publicada pelo Diário da Manhã, 40,8% dos entrevistados citam o seu nome quando respondem à pergunta “Em quem você não votaria de jeito nenhum para o Senado?” É demais: quase metade do eleitorado.
Se, em vez dos fatores positivos, essa rejeição se transferir para o Zé, aí ele não só perde a eleição, como caminha para perder no 1º turno, como cairá para o 3º lugar e se habilitará a protagonista do maior vexame eleitoral da história de Goiás. Nunca antes ninguém viu nada parecido. O Zé é mesmo um fenômeno.
(José Luiz Bittencourt, jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br)