Incidência de prolapso em órgãos pélvicos em porcas: um problema real na indústria brasileira

Por Heloiza Irtes Nascimento - Gerente de Sanidade na Topigs Norsvin



A longevidade e a saúde da porca são essenciais tanto para atender os quesitos de bem-estar animal quanto de viabilidade econômica da produção de suínos. Globalmente tem-se tentado identificar as possíveis causas relacionadas ao prolapso de órgão pélvicos (POP) em matrizes suínas, condição que tem se tornado bastante problemática em alguns plantéis pelo mundo.

Os prolapsos de órgãos pélvicos em fêmeas são classificados em três categorias:

  • Prolapso Retal: mais comum após o parto ou no pico de lactação, a mucosa retal torna-se evertida através do ânus; 
  • Prolapso vaginal: mais comum no pré-parto, a vagina se projeta através dos lábios vaginais com o colo externo visível;
  • Prolapso uterino: acontece logo após ou dentro de algumas horas após o parto. O colo do útero fica aberto e os cornos do útero ficam evertidos (Supakorn, 2017).

As causas relacionadas ao POP em porcas ainda não estão completamente claras, mas muitos fatores já foram identificados.

Estudos conduzidos pela Iowa State University (Ross, 2019) identificaram que a qualidade da água nas granjas pode influenciar a ocorrência de POP. Granjas com fonte de água não tratada apresentaram maior risco para POP. Além disso, estes estudos também demonstraram pouca ou nenhuma evidência da influência do tamanho do rebanho, número de nascidos totais e da intensidade de indução ou auxílio do parto na incidência de prolapso. Em contrapartida, a proporção de prolapsos aumenta ligeiramente com a ordem de parto e porcas que tiveram prolapso após o parto tiveram maior número de natimortos, um indicativo de dificuldade de parir.

Outro fator importante identificado foi a estratégia de alimentação pré-parto, uma vez que a utilização Bump Feeding durante o final da gestação foi associada à redução do POP. Isto foi consistente com a observação de que porcas com pior escore corporal tiveram maior probabilidade de ter POP em comparação a porcas em boa condição corporal ou com excesso de peso.

O fornecimento de ração antes do parto para porcas também teve impacto. Porcas que receberam menos de 2,2kg de ração no pré-parto tiveram aumento significante da incidência de POP quando comparadas às porcas que receberam 2,5 kg ou mais de ração por dia.

Além de aspectos produtivos, características como o comprimento da cauda da porca, inchaço perineal e microbiota vaginal no final da gestação também foram avaliados por pesquisas diferentes. O comprimento médio da cauda das porcas no final da gestação não foi associado com a incidência de POP na granja. No entanto, tendo como base a mensuração individual, porcas que apresentaram prolapso tenderam a ter a cauda mais longa (6,4cm) quando comparadas com animais que não tiveram prolapso (5,8 cm).

Porcas com maior inchaço na região do períneo foram associadas com alto risco de apresentar prolapso, mas isso não necessariamente foi classificado como um fator predisponente.

Neste mesmo trabalho, os pesquisadores desenvolveram um sistema de pontuação perineal utilizado para avaliar o potencial de POP durante o final da gestação. O escore perineal médio da granja foi positivamente associado ao nível de POP do rebanho. As porcas em posição de decúbito ventral receberam três diferentes pontuações  representadas na Figura enviada (Escore 1: um baixo risco presumido de POP; Escore 2: um risco moderado presumido de POP; e Escore 3: um alto risco presumido para POP). Perineal médio.

Porcas com baixo risco para POP, ou seja, sem inchaço, vermelhidão e protrusão receberam um escore 1; porcas com risco moderado de POP, apresentando inchaço moderado, vermelhidão e protrusão da área perineal receberam um escore 2; e porcas consideradas de alto risco para POP, que demonstraram todas as características de inchaço grave, vermelhidão e protrusão da área perineal receberam o escore 3.

Estudos mostraram que a microbiota vaginal da porca se altera no decorrer da gestação, ou seja, os microrganismos que a compõe variam com a evolução da gestação. Isso demonstra que porcas mais propensas ao aparecimento de POP possuem uma microflora vaginal específica (Kiefer, 2021).

Mais recentemente, Dunkelberger et al. (2022), demostraram que o fator genético está associado à ocorrência de POP no plantel. Em seu estudo foi demonstrado que a herdabilidade do prolapso uterino pode variar de baixa a moderada (0,13 a 0,31), indicando que pelo menos 13% da incidência de prolapso uterino se deve à genética e os demais 87% restantes são devidos a fatores não-genéticos, como manejo, nutrição e sanidade (Dunkelberger, 2022). (Link: https://www.porkbusiness.com/news/hog-production/perplexing-issue-uterine-prolapse-how-genetics-fits ). Este estudo mostrou que é possível selecionar animais contra o prolapso, no entanto ainda é de extrema importância identificar e mitigar os demais riscos associados ao prolapso para reduzir a incidência de POP em rebanhos comerciais de porcas.

Referências:

Kiefer ZE, Koester LR, Studer JM, Chipman AL, Mainquist-Whigham C, Keating AF, Schmitz-Esser S, Ross JW. Vaginal microbiota differences associated with pelvic organ prolapse risk during late gestation in commercial sows. Biology of Reproduction. 2021: ioab178. https://doi.org/10.1093/biolre/ioab178

Supakorn, C. , Stock, J. , Hostetler, C. and Stalder, K. (2017) Prolapse Incidence in Swine Breeding Herds Is a Cause for Concern. Open Journal of Veterinary Medicine, 7, 85-97. doi: 10.4236/ojvm.2017.78009.

Jason W. Ross. Identification of putative factors contributing to pelvic organ prolapse in sows (Grant # 17-224). Iowa State University – Iowa Pork Industry Center. July 1, 2019

Dunkelberger, J.R., Stevens T., Knol E. F. Heritability of sow uterine prolapse in a commercial maternal line. ASAS annual meeting abstract. 2022

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